Assim como na primeira edição da competição, mais da metade dos participantes conta com ‘hermanos’ no elenco
Por Edu Santos Rio de Janeiro
O Campeonato Brasileiro vem, nos últimos anos, se transformando em um autêntico paraíso para jogadores estrangeiros, principalmente sul-americanos. A atual edição brinda a torcida nacional com um verdadeiro festival de gringos, nem sempre de qualidade comprovada. Das 20 equipes participantes, nada menos do que 13 contam com representantes de países vizinhos.
Apesar de ter ganho vulto na última década (fruto do crescimento da economia no Brasil e, consequentemente, do fortalecimento da moeda), a imigração latina não é novidade no futebol pentacampeão do mundo.
Em sua primeira versão, em 1971, o Brasileiro foi disputado com 15 estrangeiros sul-americanos (ainda havia o zagueiro Alex, alemão naturalizado e ídolo inconteste dos torcedores do América carioca). Flamengo, Vasco, América-RJ, Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Internacional, São Paulo, Palmeiras, Santos, Portuguesa-SP e Sport tinham ‘forasteiros’ em seus plantéis, muitos que até hoje são reverenciados por saudosos torcedores, como são os casos dos uruguaios Pedro Rocha, Forlán (no Tricolor paulista) e Ancheta (no gaúcho); o paraguaio Reyes (no Flamengo); o chileno Figueroa (no Inter); e os argentinos Andrada (no Vasco) e Ramos Delgado (no Santos).
Outro estrangeiro que participou daquela edição foi Néstor Scotta. Contratado pelo Grêmio, o centroavante argentino veio do River Plate para ser o autor do primeiro gol em um Campeonato Brasileiro. No dia 7 de agosto, Scotta abriu o placar na vitória por 3 a 0 sobre o São Paulo em pleno no Morumbi (ele faria também o segundo) e escreveu definitivamente seu nome na história da mais importante competição nacional.
Naquele tempo, quando nem se imaginava internet e as informações instantâneas por ela proporcionadas, um jogador vindo de fora necessariamente deveria ter reconhecidos predicados, como atuações nas seleções de seus respectivos países, ou indicações credenciadas pelos pouquíssimos empresários de futebol da época. Outro canal muito utilizado pelos dirigentes dos clubes nacionais eram as indicações de treinadores brasileiros que tentavam a sorte no futebol argentino e uruguaio, principalmente.
Alguns hermanos que brilharam em Brasileiros
Arce (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
1971 – Andrada-ARG (gol, Vasco) e Ramos Delgado-ARG (zag, Santos)
1972 – Pedro Rocha-URU (ata, São Paulo) e Reyes-PAR (zag/vol, Fla)
1973 – Ancheta-URU (zag, Grêmio) e Cejas-ARG (gol, Santos)
1974 – Perfumo-ARG (zag, Cruzeiro)
1975 – Figueroa-CHI (zag, Inter) e Fischer-ARG (ata, Botafogo)
1976 – Doval-ARG (ata, Flu)
1977 – Darío Pereyra-URU (zag, São Paulo)
1981 – Benítez-PAR (gol, Inter)
1983 – De León-URU (zag, Grêmio)
1984 – Romerito-PAR (ata, Flu)
1985 – Rubén Paz-URU (mei, Inter)
1988 – Aguirregaray-URU (zag, Inter)
1995 – Gamarra-PAR (zag, Inter)
1998 – Arce-PAR (lat, Palmeiras)
1999 – Rincón-COL (mei, Corinthians)
2000 – Sorín-ARG (lat, Cruzeiro)
2003 – Maldonado-CHI (vol, Cruzeiro)
2004 – Lugano-URU (zag, São Paulo)
2005 – Tevez-ARG (ata, Corinthians)
2007 – Valdivia-VEN/CHI (mei, Palmeiras) e Acosta-URU (mei, Náutico)
2009 – Guiñazu-ARG (vol, Inter), Maxi López-ARG (ata, Grêmio) e Conca-ARG (mei, Flu)
Campeonato Brasileiro edição 2010
Nos dias de hoje, o número de empresários e agentes se multiplicou e o Brasil virou trampolim para uma compensadora transferência rumo ao mercado europeu que, praticamente vedado até a década de 80, vem desde então escancarando gradativamente suas portas. Seguindo modestamente a efervescência vista no Velho Continente, diversos clubes, em parcerias com empresas que investem pesado em futebol, abrem os braços para recepcionar as atrações latinas.
A Série A de 2010, que já se encontra na 12ª rodada, é um contundente exemplo desta invasão gringa. No momento, 28 jogadores sul-americanos estão integrados aos elencos de 13 das equipes participantes. O Internacional conta com cinco estrangeiros e é o recordista. Apesar da instabilidade do veterano goleiro Pato Abbondanzieri-ARG e do pouco mostrado pelo lateral Bruno Silva-URU, o Colorado até que não pode se queixar. D’Alessandro-ARG ganhou a torcida vermelha e Guiñazu-ARG é um ídolo inconteste. Quanto a Sorondo-URU, mais prós do que contras para o jogador que, com um filho brasileiro, já obteve dupla nacionalidade.
O eterno rival gaúcho surpreende este ano. Contumaz cliente (em 2009 teve o argentino Maxi López como destaque), o Grêmio atualmente não conta com qualquer representante do mercado sul-americano. Nas páginas douradas do clube, desfilam personagens como o já citado Ancheta e o também zagueiro De León (campeão em 1981), mas nesta temporada o Tricolor luta com um elenco genuinamente nacional.
Com três inscritos (Guerrón-EQU, Ivan González-PAR, Nieto-ARG), o Atlético Paranaense poderia estar à frente do Inter no quesito ‘Legião Estrangeira’ com nada menos que sete. A diretoria do Furacão, no entanto, negociou durante a competição o colombiano Valencia com o Fluminense e dispensou Javier Toledo-ARG, Serna-COL e Vanegas-COL.
Quem também parece satisfeito com suas atrações importadas do Mercosul é o Botafogo. A raça do argentino Herrera (que já defendeu Grêmio e Corinthians) e o carisma de Sebastián Loco Abreu (com passagem apagadíssima pelo Tricolor gaúcho em 1998) contagiam seus torcedores. Empolgados, muitos alvinegros chegaram ao ponto de virar a casaca na Copa da África do Sul e torcer pelo Uruguai, só por causa de Loco, o camisa 13 da Celeste Olímpica.
Buscando reeditar o sucesso das contratações do zagueiro Perfumo nos anos 1970 e do multifuncional Sorín (com passagens vitoriosas nesta década), o Cruzeiro agora aposta suas fichas em outros dois argentinos, o meia Montillo e o atacante Farías, que ainda não estrearam. Os celestes cruzam os dedos torcendo para que o tiro não saia pela culatra e os gringos não se tornem nomes a serem facilmente esquecidos.
Outro grande de Minas, o Galo, por sua vez, conta com os equatorianos Edison Méndez (primo de Guerrón) e Jairo Campos, além do paraguaio Cáceres. Já durante o Brasileiro, a direção atleticana dispensou o goleiro Carini-URU e o zagueiro Benítez-PAR.
Considerado por muitos o destaque da competição de 2009, Darío Conca é incontestável no Fluminense. Maestro da equipe na espetacular reação que livrou o Tricolor do rebaixamento, o pequeno argentino segue com a companhia do compatriota Equi González e agora com a do colombiano Valencia.
Clube mais popular do país, o Flamengo ostenta o título de atual campeão brasileiro e tem um gringo histórico em seu atual elenco, mas que nasceu muito longe do continente sul-americano. O sérvio Petkovic obviamente não entra na lista rubro-negra, que conta com o atacante colombiano Cristian Borja (primo de Rentería, avante com desempenho regular no Inter entre 2005 e 2006) e o veterano chileno Maldonado (com passagens destacadas por São Paulo, Cruzeiro e Santos). Aguardando desfecho das negociações com o Boca Juniors-ARG, o também chileno Fierro está fora dos planos, mas segue inscrito pelo clube (não está integrado ao plantel).
O arqui-rival Vasco flertou com alguns nomes, com o do zagueiro Scott, reserva da seleção uruguaia na última Copa, mas trouxe como novidade o lateral paraguaio Irrazábal. Antes do início do Brasileiro, dispensou o meia argentino Palermo, que atuou somente em um amistoso preparatório.
Em São Paulo, Palmeiras e Corinthians são os que deram um sotaque espanhol a seus plantéis. Depois de não acertar transferência para a Itália, o colombiano Armero pernaneceu no Verdão que abriu os cofres para trazer de volta um ídolo recente, Valdivia, venezuelano naturalizado chileno de ótima passagem pelo clube entre 2006 e 2008. O Mago já tem lugar na galeria palestrina, ao lado de nomes como o lateral paraguaio Arce.
Pelos lados do Timão, as fichas agora estão com o goleiro paraguaio Bobadilla, que se junta a Defederico, uma promessa argentina que ainda não vingou no Parque São Jorge. Depois de vibrar com as jogadas de Carlitos Tevez e com a aplicação de Mascherano na conquista de 2005 (o suplente Sebá era o terceiro argentino do elenco), a Fiel não sentirá a menor falta de Balbuena-PAR, Escudero-ARG, Emiliano Vecchio-ARG e Mariano Torres-ARG, todos dispensados há pouco do clube.
Atuais campeões paulistas e da Copa do Brasil, os brasileiríssimos Robinho, Ganso, Neymar e André têm um parceiro gringo em suas travessuras no Santos. O suplente Breitner nasceu na Venezuela e veio para o Brasil com apenas nove anos. Formado nas divisões de base do Peixe, o meia é filho de pai brasileiro e já tem dupla nacionalidade.
Os sul-americanos também fizeram história nos campeonatos nacionais atuando pelo São Paulo, como El Verdugo Pedro Rocha, Pablo Forlán (pai do atacante Diego Forlán, eleito o melhor jogador da Copa da África do Sul) e mais recentemente o vigoroso zagueiro Lugano, também uruguaio. Na atual edição, o lateral argentino Adrián González integrava o elenco, mas teve o contrato rescindido e não veste mais a camisa tricolor.
Ter um hermano na equipe, entretanto, não é exclusividade de clubes do Sul e do Sudeste. Depois de uma passagem irregular pelo Atlético Paranaense, o goleiro colombiano Viáfara se mudou para o Vitória em 2008 e hoje, com o moral nas alturas, é chamado de El Paredon pela torcida do Leão baiano.
A história repete a cada dia temas que parecem não envelhecer jamais. Assim como na já longínqua primeira edição, a presença de jogadores sul-americanos faz parte da trajetória do Brasileirão. O que certamente se espera é que a cada desembarque em solo tupiniquim, além do sotaque espanhol, o novo hermano traga em sua bagagem muito futebol, como alguns compatriotas que desfilaram seu talento e conquistaram os corações dos apaixonados torcedores brasileiros.
Confira os sul-americanos do Brasileirão 2010
Atlético-MG (Cáceres-PAR, Méndez-EQU, Jairo Campos-EQU) – dispensou Carini-URU e Benítez-PAR
Atlético-PR (Guerrón-EQU, Ivan González-PAR, Nieto-ARG) – dispensou Javier Toledo-ARG, Serna-COL e Vanegas-COL
Botafogo (Herrera-ARG e Loco Abreu-URU)
Ceará (Reina-COL)
Corinthians (Bobadilla-PAR, Defederico-ARG) – dispensou Balbuena-PAR, Emiliano Vecchio-ARG, Escudero-ARG (emprestado para o Argentinos Jrs.), Mariano Torres-ARG
Cruzeiro (Farias-ARG, Montillo-ARG)
Flamengo (Cristian Borja-COL, Maldonado-CHI e Fierro-CHI, este negociando com o Boca Jrs-ARG)
Fluminense (Conca-ARG, Equi González-ARG e Valencia-COL)
Inter (Abbondanzieri-ARG, Bruno Silva-URU, D’Alessandro-ARG, Guiñazu-ARG e Sorondo-URU)
Palmeiras (Armero-COL, Valdivia-VEN/CHI) – dispensou Figueroa-CHI
Santos (Breitner-VEN)
Vasco (Irrazábal-PAR)
Vitória (Viáfara-COL)
Por G1
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