sexta-feira, 30 de julho de 2010

Problemas no Enem causam descrença e temor entre estudantes



Problemas no Enem causam descrença e temor entre estudantes
Dados pessoais dos inscritos como RG e CPF vazaram do site do Inep.
Ano passado, exame teve de ser remarcado após furto.

Desde que se tornou uma das principais formas de acesso às universidades federais, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apresenta um histórico de problemas. O furto da prova e a divulgação do gabarito errado no passado, e o vazamento de dados sigilosos dos alunos descoberto nesta terça-feira (3) abalam a credibilidade do exame, segundo os estudantes.

O diretor pedagógico do cursinho Oficina do Estudante, Célio Tasinafo, disse que o vazamento de dados pessoais dos estudantes inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é mais um absurdo envolvendo a prova.

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“O temor é que a ideia de um sistema unificado de seleção para as universidades federais e até as públicas caia no descrédito, porque é tanta trapalhada envolvendo esta instituição”, afirmou.

Segundo Tasinafo, os problemas criam desconfiança com relação ao Enem. “Se meus dados, que são sigilosos, inclusive de documentos pessoais, como CPF e RG, vazam, quem me garante que a minha prova foi corrigida adequadamente, sobretudo, a prova de redação, que a gente não tem acesso e não sabe como são atribuídas as notas”, disse.

A candidata a uma vaga em medicina, Ana Paula Mendes Gouveia, de 26 anos, disse que o vazamento das informações leva ela e outros estudantes a desacreditarem no Enem. “No ano passado, as provas vazaram. Agora, vazam as nossas informações, que é uma coisa pessoal, sigilosa. Está todo mundo desacreditando, estão desistindo do Enem”, afirmou.

Ana disse que fará o Enem 2010, apesar dos problemas relacionados à prova, porque pretende a concorrer a vagas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que usam a nota do Enem no vestibular.

"Demonstra falta de organização e até de competência. O que podemos esperar da correção já que o processo é tão desorganizado?", disse Luísa Moraes, de 18 anos, que faz cursinho pré-vestibular para conquistar uma vaga no curso de relações internacionais.

Para Karina Roberta da Silva, de 22 anos, o vazamento prejudica a imagem do exame perante às universidades que ainda não o utilizam no processo seletivo. "A USP, a Unicamp estão em dúvida se aceitam ou não o Enem. Com esse tipo de coisa fica mais complicado ainda. Elas vão pensar, cada vez é um problema diferente?", afirmou. Karina vai prestar vestibular para medicina.

Problema grave
O coordenador geral do Anglo Vestibulares, Nicolau Marmo, disse que o fato de dados pessoais de estudantes ficaram disponíveis no site do Inep é problema grave. “É grave para o cidadão ter seu cadastro publicado. Isso foi por má administração. Não foi por outra coisa. É deplorável”, disse.

Segundo Marmo, dos cerca de seis mil alunos do Anglo em São Paulo, metade participa do Enem. “Os interessados são os estudantes que fazem o ProUni e aqueles que querem entrar em universidades federais”, disse. A Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não usarão a nota do Enem 2010 no vestibular, como já ocorreu em 2009.

A diretora do Instituto Dom Barreto, em Teresina, no Piauí, Maria Stela Rangel da Silva, disse que o vazamento da prova de 2009 atrapalhou os estudantes e motivou uma passeata dos alunos. Segundo a diretora, os estudantes devem, mais uma vez, ficar “chateados”, por confiarem que seus dados só poderiam ser acessados por eles e pelas universidades.

“Os organizadores do Enem precisam ter cuidado para isso não acontecer novamente, assim como o vazamento da prova”, disse Maria Stela. O Instituto Dom Barreto teve a segunda melhor nota do Brasil no Enem 2009.

Rastreamento
O presidente do Inep, José Joaquim Soares Neto, disse que é possível rastrear a origem do vazamento, já que o sistema só era acessado por meio de senha. “Primeiramente, nós vamos fazer esse rastreamento, e eu quero saber a dimensão do problema”, afirmou. No total, 231 instituições tinham acesso às informações. Os dados estão inacessíveis por tempo indeterminado.

Por Fernanda Nogueira e Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo


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